Sobre a Banda: Zero é uma banda de rock brasileiro fundada em 1983 em São Paulo. Apesar de fazer parte da cena do rock nacional, o genêro musical da fase mais popular da banda pode ser melhor classificado como new romantic, embora a sonoridade inicial tivesse mais identidade com o rock pós-punk. A banda alcançou sucesso comercial na segunda metade dos anos 1980 e separaram-se no auge em 1989. Depois de dez anos a banda retomou suas atividades em 1999. Entre seus maiores sucessos estão "Agora Eu Sei", "Formosa", "Quimeras" e "A Luta e o Prazer". (Leia mais aqui...)
Site oficial da banda: www.bandazero.com/
C.D. -
Quando você descobriu sua vocação para
música?
G. I. – Sempre
estive entretido com música. Meu desejo em criança era tocar bateria, mas
acabei ganhando uma flauta doce e a primeira música que tirei de ouvido aos 10
anos foi You’ve Got To Hide Your Love Way dos Beatles. Depois disso aos 12
toquei clarim na banda do CNF em Nova Friburgo/RJ onde estudei interno e acabei
fazendo a minha primeira gravação vocal cantando com o coro da escola o Hino de
Friburgo e do CNF num compacto simples. Também toquei tuba na banda do Colégio
Peixoto/RJ e o primeiro instrumento com que me apresentei ao vivo com uma banda
de rock foi timbale, mas logo troquei as baquetas pelo sax alto.
C.D. -
Como surgiu o Zero?
G. I. – Em 1983
conheci uma banda que tocava punk jazz, percebi que vários dos temas receberiam
bem uma melodia e então comecei a escrever algumas letras. Mais tarde
apresentei as letras e melodias para o
Ultimato e decidimos seguir em frente como ZERØ. Essa é a história da primeira
formação, conhecida como “Original”, de onde saiu o Violeta de Outono e o
Dialecto.
C.D. -
Quais as influências iniciais da banda?
G. I. – Gong,
King Krimson, Can, Talking Heads, Gang of Four, etc. no início, mais tarde, com
a formação conhecida como “Clássica”, Roxy Music, Bowie, Talk Talk, Simple
Minds, Depeche, etc.
C.D. -
Depois de tantos anos de Carreira, como é
olhar pra trás e ver que poucos artistas surgidos nos anos 80 sobreviveram?
G. I. – Você diz
“sobreviveram” profissionalmente ou literalmente? Porque não foram poucos os
amigos que se foram. A década de 80 foi uma década de excessos, muita gente
perdeu a linha, o rumo e a vida. Com relação a sobrevivência artística, é
natural que no auge de um movimento os papagaios de pirata apareçam, mas o
tempo separa o joio do trigo e essa peneira é a sinceridade e a qualidade.
Alguns colegas incursionaram por gêneros musicais “do momento” pra tentar
continuar sob os holofotes, eu sou fiel a transgressão, ao rock alternativo e
desconfio do sucesso. O que não quer dizer que eu me sinta impedido de gravar
os meus inúmeros sambas, mas é uma decisão alheia ao mercado, é a minha
necessidade de expor essa produção.
C.D. -
Você imaginou algum dia que tantos anos
depois alguma música sua ainda seria parte da programação de grandes Radios,
como é o caso de "AGORA EU SEI"? De onde vem tamanha afinidade do
público com essa música?
G. I. – O
sucesso de Agora Eu Sei corrobora minha suspeita de que a veiculação massiva
transforma qualquer coisa em sucesso. Não que eu ache que não merecemos essa
resposta do público, mas convenhamos que é um tema meio cabeludo pra sucesso
pop. A história é mais ou menos a seguinte, a canção de trabalho do nosso disco
era a primeira faixa: Cada Fio Um Sonho, mas quando os programadores
descobriram que na faixa dois tinha a participação do Paulo Ricardo,
atropelaram o marketing da gravadora e saíram tocando Agora Eu Sei. Eu tenho
como lembrança mais absurda a gente cantando no Show da Xuxa com todas aquelas
crianças alegres e inocentes sacudindo as vassourinhas e entoando (...) tudo o
que isso me traaaaz de dor, isso me traaaaaaaz de dor (...). Daí foi aquilo,
tanto martelou que as pessoas tiveram a oportunidade de meditar sobre as
palavras da canção, o que raramente ocorre com trabalhos artísticos de conteúdo
mais profundo e várias dessas pessoas identificaram-se com o desencanto ali
expresso.
C.D. -
Quando surgiu a oportunidade de gravar o
primeiro disco? Porque ele tem poucas faixas?
G. I. – Em 1985
fomos convidados pelo Jorge Davidson, da EMI naquela época, para gravar nosso
trabalho. Ele nos ligou, perguntou qual era nossa situação na CBS por onde
lançamos um compacto e disse que tinha um novo projeto pra nos incluir. O
“novo” projeto era o lançamento de um “novo” formato batizado de Mini-LP. Eu
detestei a idéia e cheguei até a discutir com o presidente da companhia
apelando para o bom senso (inexistente) explicando que no mundo inteiro esse
tipo de produto chamava-se Extended Play ou seja um produto de baixo custo com
duração estendida além da de um compacto duplo e que Mini-LP me fazia pensar
imediatamente em um LP pequenininho. Foi em vão. O tiro saiu pela culatra para
todos. O plano era ter um produto que custaria menos e venderia mais. Só
acertaram a segunda etapa, realmente vendeu muito, mas nenhum lojista cobrou
menos por isso, eles cobravam exatamente o mesmo preço de qualquer LP mesmo
tendo pagado a metade do preço por ele. Ou seja, eu perdi muito dinheiro e a
gravadora mais ainda.
C.D. -
Você acha que os anos 80 foram realmente
mais criativos (musicalmente falando), que as décadas posteriores?
G. I. – Essa
história de “Anos 80” é um rótulo redutor que ainda não foi bem explicado nem
entendido. Eu costumo usar a seguinte analogia: Nos anos 60 se fez o melhor
rock na Inglaterra, nos anos 70 foi a vez dos EUA, os 80s são a década de ouro
da história do rock brasileiro. Isso não quer dizer que fulano ou sicrano que
fazem rock de qualidade são anos 80 e sim que eles fazem rock do bom. Apareceu
muita gente boa por aí depois dos 80, Chico Science, Cassia Eller, vou parar
por aqui pra não causar polêmica, mas atualmente a parada anda indigesta. O que
a mídia resolveu eleger como tocável de rock é simplesmente insuportável.
C.D. -
Você é uma pessoa aparentemente bastante
humanitária, íniciou o projeto "Concerto Pró Sri-Lanka", que é uma
iniciativa impar, de onde você julga vir essa sensibilidade?
G. I. – Eu não
estou sozinho nesse planeta e duvido muito de que sejamos diferentes e únicos
como a maioria de nós acredita ser. Àquela altura eu fiquei emocionado com o
desaparecimento imediato e simultâneo de tantos milhares de seres em um só
evento e procurei ajudar os sobreviventes da maneira que estava ao meu alcance.
Infelizmente não passou da boa intenção, apesar de termos conseguido mobilizar
uma enormidade de artistas, as questões infra-estruturais se interpuseram e não
conseguimos alcançar o objetivo.
C.D. -
O que você recomenda para artistas
iniciantes? Existe algum caminho mais "seguro" pra chegar ao sucesso?
G. I. – A um
artista iniciante eu recomendo desconfiar do sucesso ao invés de persegui-lo e
lembro uma frase de Vinicius de Moraes que sempre me impacta: A arte não ama os
covardes!
C.D. -
Por falar em sucesso, o que ele significa
pra você? Como foi a experiência de ficar longe das programações das grandes
rádios?
G. I. – Existem
dois tipos de sucesso. Um é aquela satisfação pessoal de dever cumprido, de
objetivos alcançados e esse sucesso só pode ser quantificado, desfrutado ou
lamentado por quem o criou, batalhou, produziu e construiu. Nesse sentido eu
sou um ser no gozo pleno de um inesgotável sucesso. O outro sucesso é aquele
atribuído pela avaliação de terceiros, não é baseado no que você é, faz, pensa
ou cria e sim na exposição que isso alcança na mídia. Um é abundante e eterno,
o outro é sazonal, ilusório e atrai toda sorte de vampiros etéreos e mariposas
sedentas da luz alheia. Você precisa decidir qual sucesso te faz bem, pra mim a
escolha foi fácil.
C.D. -
O que o Guilherme Isnard, faz quando está de
folga do ZERO?
G. I. –
Atualmente curte o seu mais novo hit, Nicholas Kim Isnard, um presente que Deus,
com parto previsto para a segunda ou terceira semana de fevereiro de 2008. Fora
isso, livros sempre aos montes, filmes em montes iguais e toda sorte de
manifestações culturais, mostras, exposições, shows, etc. Também ando entretido
com a seleção de repertório para um projeto francophono aproveitando a minha
dupla nacionalidade e o ano da França no Brasil.
Até a próxima!
O Colecionador de Discos
Nenhum comentário:
Postar um comentário