03 outubro 2011

Entrevista Guilherme Isnard - Entrevista Exclusiva



 Vamos continuar com as esporádicas entrevistas exclusivas no blog, dessa vez com Guilherme Isnard, vocalista da Banda Zero,realizada em fevereiro de 2008, na ocasião eu matinha um fanzine virtual (distribuição por e-mail), sobre os anos 80 e ele prontamente aceitou conceder essa entrevista realizada por e-mail.


 Sobre a Banda: Zero é uma banda de rock brasileiro fundada em 1983 em São Paulo. Apesar de fazer parte da cena do rock nacional, o genêro musical da fase mais popular da banda pode ser melhor classificado como new romantic, embora a sonoridade inicial tivesse mais identidade com o rock pós-punk. A banda alcançou sucesso comercial na segunda metade dos anos 1980 e separaram-se no auge em 1989. Depois de dez anos a banda retomou suas atividades em 1999. Entre seus maiores sucessos estão "Agora Eu Sei""Formosa""Quimeras" e "A Luta e o Prazer". (Leia mais aqui...)


 Site oficial da banda: www.bandazero.com/



C.D. -      Quando você descobriu sua vocação para música?



G. I. – Sempre estive entretido com música. Meu desejo em criança era tocar bateria, mas acabei ganhando uma flauta doce e a primeira música que tirei de ouvido aos 10 anos foi You’ve Got To Hide Your Love Way dos Beatles. Depois disso aos 12 toquei clarim na banda do CNF em Nova Friburgo/RJ onde estudei interno e acabei fazendo a minha primeira gravação vocal cantando com o coro da escola o Hino de Friburgo e do CNF num compacto simples. Também toquei tuba na banda do Colégio Peixoto/RJ e o primeiro instrumento com que me apresentei ao vivo com uma banda de rock foi timbale, mas logo troquei as baquetas pelo sax alto.

C.D. -      Como surgiu o Zero?

G. I. – Em 1983 conheci uma banda que tocava punk jazz, percebi que vários dos temas receberiam bem uma melodia e então comecei a escrever algumas letras. Mais tarde apresentei  as letras e melodias para o Ultimato e decidimos seguir em frente como ZERØ. Essa é a história da primeira formação, conhecida como “Original”, de onde saiu o Violeta de Outono e o Dialecto.

C.D. -      Quais as influências iniciais da banda?

G. I. – Gong, King Krimson, Can, Talking Heads, Gang of Four, etc. no início, mais tarde, com a formação conhecida como “Clássica”, Roxy Music, Bowie, Talk Talk, Simple Minds, Depeche, etc.

C.D. -      Depois de tantos anos de Carreira, como é olhar pra trás e ver que poucos artistas surgidos nos anos 80 sobreviveram?

G. I. – Você diz “sobreviveram” profissionalmente ou literalmente? Porque não foram poucos os amigos que se foram. A década de 80 foi uma década de excessos, muita gente perdeu a linha, o rumo e a vida. Com relação a sobrevivência artística, é natural que no auge de um movimento os papagaios de pirata apareçam, mas o tempo separa o joio do trigo e essa peneira é a sinceridade e a qualidade. Alguns colegas incursionaram por gêneros musicais “do momento” pra tentar continuar sob os holofotes, eu sou fiel a transgressão, ao rock alternativo e desconfio do sucesso. O que não quer dizer que eu me sinta impedido de gravar os meus inúmeros sambas, mas é uma decisão alheia ao mercado, é a minha necessidade de expor essa produção.

C.D. -      Você imaginou algum dia que tantos anos depois alguma música sua ainda seria parte da programação de grandes Radios, como é o caso de "AGORA EU SEI"? De onde vem tamanha afinidade do público com essa música?

G. I. – O sucesso de Agora Eu Sei corrobora minha suspeita de que a veiculação massiva transforma qualquer coisa em sucesso. Não que eu ache que não merecemos essa resposta do público, mas convenhamos que é um tema meio cabeludo pra sucesso pop. A história é mais ou menos a seguinte, a canção de trabalho do nosso disco era a primeira faixa: Cada Fio Um Sonho, mas quando os programadores descobriram que na faixa dois tinha a participação do Paulo Ricardo, atropelaram o marketing da gravadora e saíram tocando Agora Eu Sei. Eu tenho como lembrança mais absurda a gente cantando no Show da Xuxa com todas aquelas crianças alegres e inocentes sacudindo as vassourinhas e entoando (...) tudo o que isso me traaaaz de dor, isso me traaaaaaaz de dor (...). Daí foi aquilo, tanto martelou que as pessoas tiveram a oportunidade de meditar sobre as palavras da canção, o que raramente ocorre com trabalhos artísticos de conteúdo mais profundo e várias dessas pessoas identificaram-se com o desencanto ali expresso.

C.D. -      Quando surgiu a oportunidade de gravar o primeiro disco? Porque ele tem poucas faixas?

G. I. – Em 1985 fomos convidados pelo Jorge Davidson, da EMI naquela época, para gravar nosso trabalho. Ele nos ligou, perguntou qual era nossa situação na CBS por onde lançamos um compacto e disse que tinha um novo projeto pra nos incluir. O “novo” projeto era o lançamento de um “novo” formato batizado de Mini-LP. Eu detestei a idéia e cheguei até a discutir com o presidente da companhia apelando para o bom senso (inexistente) explicando que no mundo inteiro esse tipo de produto chamava-se Extended Play ou seja um produto de baixo custo com duração estendida além da de um compacto duplo e que Mini-LP me fazia pensar imediatamente em um LP pequenininho. Foi em vão. O tiro saiu pela culatra para todos. O plano era ter um produto que custaria menos e venderia mais. Só acertaram a segunda etapa, realmente vendeu muito, mas nenhum lojista cobrou menos por isso, eles cobravam exatamente o mesmo preço de qualquer LP mesmo tendo pagado a metade do preço por ele. Ou seja, eu perdi muito dinheiro e a gravadora mais ainda.

C.D. -      Você acha que os anos 80 foram realmente mais criativos (musicalmente falando), que as décadas posteriores?

G. I. – Essa história de “Anos 80” é um rótulo redutor que ainda não foi bem explicado nem entendido. Eu costumo usar a seguinte analogia: Nos anos 60 se fez o melhor rock na Inglaterra, nos anos 70 foi a vez dos EUA, os 80s são a década de ouro da história do rock brasileiro. Isso não quer dizer que fulano ou sicrano que fazem rock de qualidade são anos 80 e sim que eles fazem rock do bom. Apareceu muita gente boa por aí depois dos 80, Chico Science, Cassia Eller, vou parar por aqui pra não causar polêmica, mas atualmente a parada anda indigesta. O que a mídia resolveu eleger como tocável de rock é simplesmente insuportável.

C.D. -      Você é uma pessoa aparentemente bastante humanitária, íniciou o projeto "Concerto Pró Sri-Lanka", que é uma iniciativa impar, de onde você julga vir essa sensibilidade?

G. I. – Eu não estou sozinho nesse planeta e duvido muito de que sejamos diferentes e únicos como a maioria de nós acredita ser. Àquela altura eu fiquei emocionado com o desaparecimento imediato e simultâneo de tantos milhares de seres em um só evento e procurei ajudar os sobreviventes da maneira que estava ao meu alcance. Infelizmente não passou da boa intenção, apesar de termos conseguido mobilizar uma enormidade de artistas, as questões infra-estruturais se interpuseram e não conseguimos alcançar o objetivo.

C.D. -      O que você recomenda para artistas iniciantes? Existe algum caminho mais "seguro" pra chegar ao sucesso?

G. I. – A um artista iniciante eu recomendo desconfiar do sucesso ao invés de persegui-lo e lembro uma frase de Vinicius de Moraes que sempre me impacta: A arte não ama os covardes!

C.D. -      Por falar em sucesso, o que ele significa pra você? Como foi a experiência de ficar longe das programações das grandes rádios?

G. I. – Existem dois tipos de sucesso. Um é aquela satisfação pessoal de dever cumprido, de objetivos alcançados e esse sucesso só pode ser quantificado, desfrutado ou lamentado por quem o criou, batalhou, produziu e construiu. Nesse sentido eu sou um ser no gozo pleno de um inesgotável sucesso. O outro sucesso é aquele atribuído pela avaliação de terceiros, não é baseado no que você é, faz, pensa ou cria e sim na exposição que isso alcança na mídia. Um é abundante e eterno, o outro é sazonal, ilusório e atrai toda sorte de vampiros etéreos e mariposas sedentas da luz alheia. Você precisa decidir qual sucesso te faz bem, pra mim a escolha foi fácil.

C.D. -   O que o Guilherme Isnard, faz quando está de folga do ZERO?

G. I. – Atualmente curte o seu mais novo hit, Nicholas Kim Isnard, um presente que Deus, com parto previsto para a segunda ou terceira semana de fevereiro de 2008. Fora isso, livros sempre aos montes, filmes em montes iguais e toda sorte de manifestações culturais, mostras, exposições, shows, etc. Também ando entretido com a seleção de repertório para um projeto francophono aproveitando a minha dupla nacionalidade e o ano da França no Brasil.

Até a próxima!


O Colecionador de Discos

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